Nascer

Nascer é constituir um novo corpo-mundo. E é isto o que está sendo feito aqui. Nada de realmente novo, apenas mais uma constituição de corpo. Segundo corpo, corpo virtual, mas toda uma outra economia da percepção instaurada. Talvez aqui seja possível falar em economia da percepção, em sentido estrito.

Pois é, interessante pensar. Segundo Ingold, a percepção no mundo é imediata. Mas aqui ela se torna mediada (talvez?). Vamos refletir sobre isso agora, parece interessante essa pergunta: “o que eu estou percebendo aqui, quando entro neste mundo?”. Disseram-me certa vez que o computador é o objeto platoniano por excelência, e agora isso adquire novo sentido. Existe algo percebido – um pacote de informações gerado em algum lugar bem longe daqui – e eu percebendo. No meio há um mecanismo de tradução, que funciona como “estrutura cognitiva” que traduz esse pacote de pura informação boyleana (zeros e uns) em um conjunto de pixels reconhecíveis pelo olho humano como um texto. Oras, bolas. Nunca tinha pensado nisso, o computador nos levando à força a um desengajamento. Talvez. É algo a ser melhor pensado, uma vez que a percepção do computador continua sendo imediata, continua se constituindo em um engajamento – uma percepção com o computador.

Panos para mangas.